Pessoas que só praticam boas ações quando estão sob os olhares alheios são um fenômeno intrigante e, ao mesmo tempo, perturbador. Elas habitam um espaço paradoxal, onde a aparência de bondade é mais valorizada do que a essência da própria generosidade. São indivíduos que dominam a arte do teatro social, capazes de performar atos de altruísmo com maestria, mas que, nos bastidores da vida cotidiana, revelam uma ausência genuína de empatia ou compromisso com o próximo.
Essa dualidade entre o que mostram e o que realmente são nos leva a refletir sobre a natureza da moralidade e da autenticidade. Será que a bondade só tem valor quando testemunhada? Para essas pessoas, parece que sim. Elas não estão interessadas no impacto real de suas ações, mas sim na imagem que projetam. A boa ação, nesse contexto, não é um fim em si mesma, mas um meio para alcançar reconhecimento, aprovação ou até mesmo poder. É uma moeda de troca social, uma forma de construir uma reputação que muitas vezes não corresponde à realidade.
No dia a dia, essas pessoas são como fantasmas: presentes, mas intangíveis. Quando você precisa de ajuda, elas desaparecem. Quando a situação exige solidariedade sem plateia, elas se tornam indiferentes. É como se o bem que praticam fosse condicional, reservado apenas para momentos em que há alguém para aplaudir. Essa seletividade revela uma profunda desconexão com os valores que supostamente defendem. A bondade, para elas, não é um princípio, mas uma estratégia.
Essa atitude, no entanto, não deixa de ser uma forma de violência silenciosa. Ao se recusarem a estender a mão quando ninguém está olhando, elas negam ao outro a dignidade de ser ajudado de forma desinteressada. E, pior ainda, ao performarem a bondade publicamente, elas criam uma ilusão que pode desencorajar aqueles que realmente se importam, pois estes podem se sentir desvalorizados ou até mesmo questionar a validade de suas próprias ações.
Por trás desse comportamento, é possível identificar uma profunda insegurança. Essas pessoas precisam constantemente da validação dos outros porque, no fundo, não acreditam em seu próprio valor. A boa ação performática é, então, uma tentativa desesperada de preencher um vazio interno, de provar para si mesmas e para o mundo que são dignas de admiração. No entanto, essa busca por reconhecimento é uma armadilha: quanto mais elas dependem da aprovação alheia, mais distantes ficam de uma verdadeira conexão consigo mesmas e com os outros.
Em última análise, essas pessoas nos convidam a refletir sobre o que realmente significa ser bom. A bondade não pode ser um espetáculo, uma máscara que vestimos apenas quando há plateia. Ela precisa ser autêntica, enraizada em um compromisso genuíno com o bem-estar do outro, independentemente de quem está observando. Caso contrário, corremos o risco de viver em um mundo onde a aparência de bondade é mais importante do que a bondade em si, um mundo onde as relações são superficiais e o verdadeiro sentido de comunidade se perde.
Portanto, ao nos depararmos com alguém que só faz boas ações na frente dos outros, é importante não apenas reconhecer a fragilidade por trás desse comportamento, mas também reafirmar nosso compromisso com a autenticidade. A verdadeira bondade não precisa de testemunhas; ela se sustenta por si só, como um farol que ilumina mesmo nos momentos mais obscuros. E é nessa luz que devemos buscar viver, longe das sombras da performatividade e da superficialidade.
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